Diabetes Hoje

Diabetes Hoje

Novembro é o mês em que nos lembramos da Diabetes, pois dia 14 comemora-se o Dia Mundial da Diabetes!

No entanto a Diabetes é uma condição que nos afeta todos os dias e hoje é ainda mais importante falar dela.

Sabemos que a Diabetes afeta cerca de 13% da população portuguesa e que esse número tem tendência a crescer bastante, como se verifica com a quase duplicação dos casos nos últimos quarenta anos! Mas sabemos, de facto, de que se trata a Diabetes?

A Diabetes é uma condição crónica do foro metabólico, onde as várias alterações fisiopatológicas levam a uma grande concentração de açúcar no sangue. Isto acontece porque o pâncreas não produz insulina, ou produz pouca e/ou com pouca qualidade. O açúcar é um nutriente muito importante para o metabolismo das células e é a insulina a hormona responsável pelo transporte deste para as células, onde se transforma em energia.

No caso da Diabetes tipo 1, esta ausência de produção de insulina é normalmente causada por uma inflamação autoimune que leva à destruição das células responsáveis por fabricar esta hormona, a insulina. Estes casos representam cerca de apenas 10% enquanto que na Diabetes tipo 2, a produção da insulina ainda existe, mas de má qualidade ou em pouca quantidade. Esta condição pode acontecer por antecedentes familiares e alguns hábitos de vida pouco saudáveis, quer alimentares, tabagísticos, alcoólicos quer no que respeita ao sedentarismo e ao excesso de peso. Este tipo de Diabetes representa cerca de 90% dos casos e pode verificar-se em pessoas adultas e idosas com mais frequência. Já a Diabetes tipo1 afeta mais crianças e jovens adultos podendo ser diagnosticada em qualquer idade.

Para além da Diabetes Tipo1 e Tipo 2, um outro tipo cada vez mais comum é a Diabetes Gestacional. Esta Diabetes surge na gravidez quando todo o organismo está alterado a nível hormonal, alteração esta que aliada ao excesso de peso ou à alimentação pouco equilibrada cria um ambiente propício ao surgimento da Diabetes Gestacional. Na maioria dos casos pode controlar-se apenas com uma alimentação controlada e equilibrada e atividade física ou eventualmente com terapêutica que recorre à insulina, mas poderá não subsistir depois da gravidez caso a grávida tenha um bom controle. Em casos de mau controle podem surgir problemas fetais e no parto.

Mas a Diabetes que já é, em muitos países e também em Portugal, considerada um problema de saúde pública, requer uma análise mais atenta do que simplesmente a visão superficial do controlo da alimentação e da atividade física!

A Diabetes requer uma gestão multidisciplinar e abrangente pois toca em várias áreas da saúde e da vida social e familiar da pessoa com Diabetes.

Neste ano em que todos vimos a nossa vida alterar-se em vários aspetos, não foi exceção para a Diabetes. Das medidas adotadas pelas pessoas para gerir a sua Diabetes em quarentena, às consultas adiadas ou por teleconsulta… muita coisa se alterou nestes meses! A gestão governamental do que seriam ou não pessoas de risco, incluindo e excluindo os diabéticos e voltando a incluir, não ajudou em nada estas pessoas a perceber como conviver com a Diabetes e esta nova realidade! Isto porque as entidades decisoras desconhecem as complexidades desta doença, apesar de se ouvir falar tanto de Diabetes!

Com esta paragem e mudanças, apesar de todo o esforço dos profissionais de saúde para não deixar as pessoas com Diabetes e suas famílias sem o apoio que normalmente têm, muito ainda é necessário fazer para melhorar a vida destas pessoas! E agora ainda mais! Muitas pessoas com Diabetes têm também outras doenças associadas que não podem ser descoradas.

Mesmo com todas estas mudanças e esta nova normalidade, assistimos à notícia da saída de novos dispositivos que irão contribuir para a melhoria de vida destas pessoas, dando valores de glicemia mais exatos e diminuindo o incómodo do ritual de picar o dedo, ato que caracterizava até há bem pouco tempo o seu dia a dia. Hoje já temos à nossa disposição aparelhos que nos facilitam muito a vida e dão aos profissionais de saúde informações nunca antes conseguidas.

A evolução tecnológica da última década é, de facto, um feito muito importante numa nova abordagem que se quer para esta doença, assim as entidades responsáveis estejam também abertas para facilitar a entrada no mercado desses dispositivos e medicamentos inovadores, em tempo útil, para bem dos doentes e suas famílias.

A FPAD, Federação Portuguesa das Associações de Pessoas com Diabetes, composta por 15 associações em todo o país e ilhas, apenas com trabalho voluntário, está bastante envolvida neste avanço no estudo e tratamento da Diabetes, assim como nas mudanças sociais necessárias, pois convive diariamente com todas as circunstâncias inerentes a esta condição. Tem por isso apostado em conhecer a realidade de perto, os seus problemas e carências e trabalhar em conjunto com as entidades que deste conhecimento têm necessidade para adaptar a sua atuação da melhor forma.

Pela sua complexidade, a Diabetes deve ter uma abordagem multidisciplinar e o doente deve ser colocado no centro da gestão da sua condição, com o apoio da família que deve ter um papel cada vez mais presente e ativo. A formação e a informação neste tema nunca será demais e deve tocar os profissionais de saúde e os doentes. As pessoas com Diabetes devem ter acesso a conhecimento acerca da sua doença, pois o empoderamento destas pessoas e da comunidade que os envolve é imprescindível para veicular hábitos de vida saudáveis e minimizar comportamentos de preconceito.


Assim como a comunidade, a escola deve envolver-se e desmistificar esta condição, atuando em conjunto. Não podemos esquecer, também, os cuidadores informais que dedicam o seu tempo a cuidar quer das crianças (em idade não autónoma para a Diabetes), quer os idosos que requerem grande dedicação! Todos estes atores sociais são fundamentais para que, em conjunto com as equipas médicas e as instituições, se trabalhe para conhecer, tratar e quando possível prevenir esta condição que mais tarde ou mais cedo (na DT2), infelizmente, tocará a todos nós.


Acredita-se que no mundo cerca de 400 milhões de pessoas tenham Diabetes e o número tende a crescer. No caso da Diabetes tipo 2, está nas nossas mãos mudar esse rumo!

 

Emiliana Querido
Presente da Federação Portuguesa das Associações de Pessoas com Diabetes

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