Despertar do Fazer Empatia: a Arte de Ver o Mundo Com os Olhos dos Outros!

Despertar do Fazer Empatia: a Arte de Ver o Mundo Com os Olhos dos Outros!

A palavra empatia deriva do grego EMPATHEIA tendo sido inicialmente empregada para a compreensão estética e emocional de um objeto, de uma obra de arte ou de uma situação significativa.

Joseph Cambray (2013) registra que o termo original em alemão para empatia significa “sentir-se em”, relacionando a dinâmica dentro da obra de arte com as experiências subjetivas originárias dos estados somáticos e afetivos engendrados ao se ver a arte, envolvendo um ato inconsciente, involuntário de transferência de si aos objetos. Posteriormente, a compreensão psicológica da empatia foi desenvolvida como a imitação de ações de outros gerando experiências empáticas e respostas a gestos, expressões faciais e tom de voz carregados de emoção, suscitando o mesmo no observador.

Nas relações interpessoais, a empatia é a aptidão de identificação com os outros, colocando-se em seu lugar, compreendendo seus sentimentos e seu modo de ser, sem a perda da própria compreensão e, para isto, conta com os neurônios-espelho.

O cérebro humano, dotado da capacidade verbal de comunicação, tem o sistema de neurônios-espelho mais evoluído, permitindo que faça e compreenda o significado das ações, de pensamentos, das emoções, de atitudes e sentimentos ao seu redor, onde espelhar ou simular as ações pode antecipar respostas, permitindo análise de metáforas e tomadas de decisões.

Pesquisas mostram que a empatia envolve regiões cerebrais ancestrais e a ativação do sistema empático é frequentemente inconsciente, de modo sincronístico. Desta forma, o cérebro é produto de uma seleção natural onde as pressões do ambiente social determinaram quais características permaneceriam para as gerações futuras, para a sua própria sobrevivência. Para Cambray, o impacto dos neurônios espelho sobre o nosso entendimento de como estamos ligados uns aos outros e com as outras criaturas e até objetos de nosso mundo foi tremendo.

Talvez a criação retrospetiva de uma lenda urbana aqui reflita a tendência humana de criar narrativas em torno dos eventos sincronísticos ou emergentes, tornando-os míticos - eu sugeriria que o início do século XXI se tornou uma época da mitologia do cérebro com a verificação neurocientífica das verdades arquetípicas“ (CAMBRAY, 2013. p.176).

A Neuroimagem é uma das técnicas da Neurociência para mapeamento cerebral que fornece imagens computadorizadas para o estudo das estruturas e funcionamento do Sistema Nervoso, a compreensão da atividade mental e do comportamento humano. Ela permite a visualização do cérebro emocional e as memórias emocionais em ação.

O cérebro emocional é a estrutura mais antiga e profunda do cérebro. Está situada entre o lobo temporal e parietal, dividido em duas regiões distintas, a insula anterior (ou frontal) e a insula posterior.

A ínsula envolve atividades das bases neurofisiológicas da emoção e das funções reguladoras do corpo - paladar, batimentos cardíacos, temperatura corporal, percepção sensorial a contatos físicos e dos movimentos dos órgãos internos e dos instintos, regulando os comportamentos de luta e fuga, primordial para a preservação das espécies.

O Inconsciente Coletivo, segundo Jung, guarda a herança da evolução da humanidade e nele, a psique e a matéria estão inter-relacionadas, promovendo a construção de cada indivíduo e das várias culturas nas quais está inserido, com as informações arquetípicas e impessoais que precisam de experiências reais para se manifestarem.

As imagens arquetípicas, expressas através dos símbolos, surgem em estados de consciência alterados como nos sonhos, nas visualizações criativas, nas meditações, imaginações ativas, nos mitos - analogias dos arquétipos que são imagens inconscientes dos próprios instintos, criados como forma de explicar fenômenos psíquicos.

Jung afirma que:

O inconsciente coletivo é uma parte da psique que pode distinguir-se de um inconsciente pessoal pelo fato de que não deve sua existência à experiência pessoal, não sendo, portanto, uma aquisição pessoal. Enquanto o inconsciente coletivo é constituído essencialmente de conteúdos que já foram conscientes e, no entanto, desapareceram da consciência por terem sido esquecidos ou reprimidos, os conteúdos do inconsciente coletivo nunca estiveram na consciência e, portanto, não foram adquiridos individualmente, mas devem sua existência apenas à hereditariedade (JUNG, 2013. p. 51).

A Psicologia Analítica estuda a manifestação dos arquétipos através de questões ligadas à alma, às emoções, analisando o produto genuíno da psique, o símbolo. As emoções são estimuladas por sentimentos que impulsionam a vida, manifestando reações do homem, com ele mesmo e seu entorno.

A Neuroimagem propiciou uma nova forma para o conhecimento do cérebro e do inconsciente favorecendo a compreensão dos pensamentos, da construção das ideias e da comunicação e suas simbologias manifestadas, principalmente, através da arte e das emoções por ela geradas.

A palavra emoção é derivada de mover, colocar em movimento, entendendo que a emoção é um movimento do interior para o exterior do indivíduo, executado para comunicar estados de espírito e necessidades internas, acompanhadas de respostas que prepararam o indivíduo para ação.

As respostas vêm de áreas subcorticais do sistema nervoso que se relacionam, além das emoções, com os instintos e com a memória, estando presentes em todos os mamíferos e responsáveis pelas funções básicas como comer, beber, reproduzir e do equilíbrio fisiológico.

A base da estrutura arquetípica foi lançada por Jung ao afirmar que o corpo e a psique têm uma estruturação arquetípica, comum a toda a humanidade, que será elaborada, involuntariamente, para que o homem possa alcançar o propósito da sua totalidade - a individuação.

Jung postulava ainda que o cérebro é um órgão ligado à psique e que para o funcionamento equilibrado de todos os seus componentes, tanto fisicamente quanto socialmente, é preciso que os dados captados pelos canais sensoriais sejam transformados em informações através de redes neurais, resultando no estado mental, emocional e comportamental de determinado momento e consequentemente na forma de expressão destes momentos nas artes e nos processos expressivos, como nos processos arteterapeuticos.

Desta forma, a região da ínsula, quando aparece ativada nas imagens de neuroimagem, mostra ser a estrutura de integração entre a emoção e a razão, que é energizada com a indução de recordações e memórias, provocando sensações de felicidade ou tristeza, prazer e recompensa, raiva, medo, desafios de luta e fuga, diretamente ligadas às associações emocionais para tomada de decisões, dependendo das ações vivenciadas que poderão ser expressas na arte e nos processos arteterapeuticos e, como Jung analisa, em seu O Livro Vermelho (2015), Apêndice B - “Essas imagens primordiais têm um poder secreto, que atua tanto sobre a razão quanto sobre a emoção da pessoa humana... Este poder secreto é como um feitiço, como magia que causa tanto elevação quanto sedução” (p.498/499), o desenvolvimento e surgimento de inovações teóricas e descobertas da relação cérebro e emoções, sensações primordiais à evolução e compreensão que temos de nós mesmos.

Referências

- BYINGTON, Carlos A. B. Os conceitos de Símbolo e de Função Estruturante como ponte entre a Psicologia Analítica, a Psicologia Cognitivo Comportamental e as Neurociências. Um estudo da psicologia simbólica Junguiana.

Palestra pronunciada na Faculdade de Medicina da Universidade Central da Venezuela, em 14.06.2007. http://www.carlosbyington.com.br/site/wp

- CAMBRAY, Joseph. Sincronicidade: Natureza e Psique num Universo Interconectado. Petrópolis, RJ. Vozes, 2013.

- SANTOS, Alan Ferreira dos. Psicologia Analítica e Neurociências: uma tentativa de comunicação – 2016. Psicologia.pt - Documento publicado em 8 de janeiro de 2017.

- RAMOS, Denise Gimenez. Entre a Psique e a Matéria - Novas Conexões. Núcleo de estudos Junguianos simpósios e eventos.

https://www.pucsp.br/jung/portugues/simposios_eventos/I_simposios.html

- HARMATH, Carlos A. C.. Psicologia Junguiana à luz da Neurociência Mente – Cérebro: noções básicas de neurociências para psicólogos e psiquiatras.

 

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